Enrique Anderson Imbert (Córdoba, 12 de fevereiro de 1910 - Buenos Aires, 6 de dezembro de 2000) foi um escritor, ensaista e professor universitário argentino.
Nascido em Córdoba, desde os quatro anos de idade viveu em Buenos Aires e, após os oito, viveu em La Plata. Estudou no Colégio Nacional dessa cidade e, após um tempo, na Universidade de Buenos Aires, onde ingressou com 18 anos. Foi aluno de Pedro Henríquez Ureña em filologia e de Alejandro Korn em filosofia.
Em 1930, começou a ensinar na Universidade Nacional de Cuyo e, posteriormente, até 1947, na Universidade Nacional de Tucumán. Ao mesmo tempo, era editor da seção literária do jornal socialista La Vanguardia, de Buenos Aires. Destituído de seu cargo em Tucumán com o advento do governo de Juan Domingo Perón, se mudou para os Estados Unidos, onde trabalhou na Universidade de Columbia. Ainda em 1947, começou a ensinar na Universidade de Michigan, onde permaneceria até 1965. Neste ano, foi designado professor de literatura hispânica da Universidade de Harvard, cargo que manteria até 1980. Foi eleito membro da Academia Argentina de Letras em 1979.
Após deixar suas atividades docentes, Anderson Imbert continuou com sua paixão pela literatura, escrevendo em diversos gêneros literários. Todos os anos, regressava durantes uns meses a Buenos Aires, onde faleceu no final do ano 2000. Em seus últimos dias, finalizou um pequeno conto: a história de um violinista que, a ponto de começar um concerto que definiria sua carreira, descobre que se esqueceu da partitura.
Durante toda sua vida, Anderson Imbert, defendeu sua adesão ao socialismo.
Enrique Anderson Imbert fue el autor de una pionera Historia de la Literatura Hispanoamericana que se convirtió en una obra básica de consulta. Fue un brillante catedrático, practicó una erudición que no excluía la amenidad ni la inteligencia, dejó escritos numerosos volúmenes de ensayo y de teoría y crítica literarias. Sin embargo, prefiero recordarlo como el tejedor de una vasta obra de ficción, y sobre todo, como el que inscribió indeleblemente en el aire silencioso de la lectura, la sonrisa del Gato de Cheshire.
Así, El Gato de Cheshire (1965), se llama uno de sus libros, en homenaje al felino de Alice in Wonderland , que tenía la inquietante costumbre de corporizarse y descorporizarse, pero hacía esto último al revés: empezaba por la punta de la cola y dejaba flotando el fantasma de su sonrisa. Los textos de esta obra -ni cuentos, ni poemas, ni ensayos, sino cruce deslumbrante de géneros en una forma breve- son como esa sonrisa. Con lenguaje de la filosofía idealista (Benedetto Croce) Anderson los considera aspiraciones a la "intuición pura". Más allá de la terminología que se elija, estas "sonrisas sin gato" logran sin duda, desde su gesto perturbador y subversivo, el máximo impacto poético: "desautomatizar la percepción", como dijo Shklovski, dislocar los esquemas rutinarios y utilitarios que nos instalan en lo que llamamos, confiadamente, la realidad. Quizá en ninguna otra obra de Anderson esta voluntad de ruptura y creativa transgresión es tan intensa, deliberada y sistemática, y abarca un registro tan amplio: desde la erosión de las fronteras genéricas hasta la contra escritura de los mitos, las filosofías y las teologías que han articulado el universo imaginario y especulativo de nuestra cultura. Quizá por eso este libro de irreverente originalidad puede ser entendido como summa o cifra de todos los otros, como lugar privilegiado desde el cual leer la ficción andersoniana.
Samuel Taylor Coleridge (Ottery St. Mary, 21 de Outubro de 1772 - 25 de Julho de 1834), comumente designado por S. T. Coleridge, foi um poeta, crítico e ensaista inglês, considerado, ao lado de seu colega William Wordsworth, um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra.
Depois de publicar alguns poemas em 1796, escreveu, em parceria com o poeta William Wordsworth, Baladas líricas (1798), que se tornou um marco da poesia inglesa e em que se destaca a sua famosa Balada do antigo marinheiro, um dos primeiros grandes poemas da escola romântica. Mais tarde, escreveu o poema simbólico Kubla Khan e o poema místico-narrativo Cristabel.
Sua principal obra em prosa, Biographia Literaria (1817), é uma série de dissertações e notas autobiográficas sobre diversos temas, entre os quais destacam-se suas observações literárias.
Influenciou toda uma geração de novos escritores, como Quincey, Byron e Shelley.
Sobre a Rosa de Coleridge e suas consequencias práticas
Fernando Pessoa e O Homem de Porlock
O curioso texto de Fernando Pessoa, O Homem de Porlock, trata da composição do poema Kubla Kahn, da autoria do poeta inglês Coleridge. O episódio foi tratado por Borges no ensaio El sueño de Coleridge, em 1952. O artigo de Fernando Pessoa, publicado no nº 2 da revista Fradique, Lisboa, foi publicado em 15 de fevereiro de 1934; portanto, mais de vinte anos antes do texto do escritor argentino. Segundo Fernando Pessoa, depois de ingerir um ‘anódino’ – de acordo com outras versões tratava-se de ópio – Coleridge adormeceu. Sobreveio um sonho extraordinário, acompanhado de ‘expressões verbais’, que ele, após o despertar, passou a transcrever. Mas foi interrompido por um visitante desconhecido, apelidado de o ‘Homem de Porlock’, nome da cidade vizinha da aldeia onde residia o poeta. Assim, o texto ficou reduzido a fragmentos, incompleto. Talvez por isso Fernando Pessoa o denominou ‘quase-poema’, na frase aparentemente contraditória de seu artigo: “Esse quase-poema é dos poemas mais extraordinários da literatura inglesa”. A afirmação conduz a uma outra opinião, igualmente interessante, do poeta: a de que a literatura inglesa era a mais importante entre todas, à exceção da grega. Numa época em que a literatura ocidental, sobretudo a portuguesa, recebia da França sua influência maior, Fernando Pessoa se situava, como sempre, a contracorrente. Educado em Durban, na África do Sul, o inglês, de fato, lhe era tão familiar quanto o português. Além disso, foi o principal idioma de trabalho na sua atividade de “correspondente estrangeiro em casas comerciais”, conforme definiu sua profissão em nota biográfica com data de 1935. Para Fernando Pessoa, o Kubla Khan, de Coleridge, “era o princípio e o fim de qualquer coisa espantosa, de outro mundo, figurada em termos de mistério que a imaginação não pode humanamente representar-se, e da qual ignoramos, com horror, qual poderia ter sido o enredo”. Fernando Pessoa considera que Poe – um dos seus poetas prediletos – nunca “atingiu o Outro Mundo dessa maneira nativa ou com essa sinistra plenitude”. No entanto, ao contrário do autor de O corvo – do qual foi tradutor - Coleridge não faz parte da relação de poetas que exerceram sobre o autor de Mensagem alguma influência literária. Certamente por isso, o artigo ‘O Homem de Porlock’ consta de seus trabalhos sobre a realidade transcendente (no caso, sobre a comunicação onírica) e não entre aqueles voltados para a crítica literária.
P.S. A propósito, tomo a liberdade de transcrever a observação que recebi do amigo, professor e poeta Fred Silva, via e-mail, a respeito do artigo de Fernando Pessoa em questão: Prezado Everardo, acho que é o Homem de Porlock, ao contrário do que foi transcrito, que é a grande força criadora. A interrupção do devaneio é o início do trabalho. É quando ele finda que começa a surgir o poeta. Caso não fosse assim, o que distanciaria o significante nulo e o absurdo, cuja equidistância é a base da metáfora?
Em Xanadu, um palácio de prazer Comanda-o Kubla Khan como um farol Onde Alph, rio sagrado, vem correr Através de cavernas sem mais ver Ao ser humano até um mar sem sol. Assim, milhas e milhas de bom solo, Cerca de muro e torres polo a polo: E lá jardins luzentes em ribeiros Curvos e árvores com flor e incenso; Aqui florestas velhas qual outeiros, Estufam tons de sol em seu descenso.
Mas, oh! ideal abismo que desceu Pela colina em cedro verdejante! Lugar selvagem! santo e tão galante como sob um luar minguante deu-se A uma mulher em prantos: demoamante! E no abismo em tumulto sem cessar, Como se esta terra estivesse a arfar, Uma possante fonte foi lançada, Entre seus fortes jatos em camada Grandes fragmentos alçam-se, granizos, Ou áridos grãos sob o mangual com guizos; Sempre e uma vez rochedos dançarinos Davam-se em relance ao rio divino. Cinco milhas em deslizar insano Entre vales e bosques foi-se o rio E chegou às cavernas sem feitio E agitado entrou no vago oceano: E nisso Kubla de longe a escutar Vozes velhas a guerra a anunciar!
A sombra do palácio do prazer Flutuou pelo meio das marés Quando se ouviu a escala do envolver Da fonte e das cavernas. E até Era milagre de raro desvelo Um solar de prazer, cavas de gelo!
Uma donzela com saltério Vi certa vez como algo etéreo Era uma virgem da Abissínia E no saltério dela ouvia O seu cantar do Monte Abora.
Podia reviver agora Sua canção e sinfonia, Esse denso deleite me teria, Pois com longa, elevada melodia, Eu faria aquele solar no ar, Aquelas cavas de gelo! O solar! Todos que ouviram os veriam lá, E, cuidado! cuidado! a gritar Todos. Seus olhos cintilantes E seus cabelos flutuantes! Três vezes tece um aro em torno dele, E cerre a vista em sacro medo, que ele Alimentou-se do silvestre mel E assim bebeu o leite lá do Céu.
Enrique Anderson Imbert (Córdoba, 12 de fevereiro de 1910 - Buenos Aires, 6 de dezembro de 2000) foi um escritor, ensaista e professor universitário argentino.
ResponderExcluirNascido em Córdoba, desde os quatro anos de idade viveu em Buenos Aires e, após os oito, viveu em La Plata. Estudou no Colégio Nacional dessa cidade e, após um tempo, na Universidade de Buenos Aires, onde ingressou com 18 anos. Foi aluno de Pedro Henríquez Ureña em filologia e de Alejandro Korn em filosofia.
Em 1930, começou a ensinar na Universidade Nacional de Cuyo e, posteriormente, até 1947, na Universidade Nacional de Tucumán. Ao mesmo tempo, era editor da seção literária do jornal socialista La Vanguardia, de Buenos Aires. Destituído de seu cargo em Tucumán com o advento do governo de Juan Domingo Perón, se mudou para os Estados Unidos, onde trabalhou na Universidade de Columbia. Ainda em 1947, começou a ensinar na Universidade de Michigan, onde permaneceria até 1965. Neste ano, foi designado professor de literatura hispânica da Universidade de Harvard, cargo que manteria até 1980. Foi eleito membro da Academia Argentina de Letras em 1979.
Após deixar suas atividades docentes, Anderson Imbert continuou com sua paixão pela literatura, escrevendo em diversos gêneros literários. Todos os anos, regressava durantes uns meses a Buenos Aires, onde faleceu no final do ano 2000. Em seus últimos dias, finalizou um pequeno conto: a história de um violinista que, a ponto de começar um concerto que definiria sua carreira, descobre que se esqueceu da partitura.
Durante toda sua vida, Anderson Imbert, defendeu sua adesão ao socialismo.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Enrique_Anderson_Imbert
O Gato de Cheshire - Resenha
ResponderExcluirEnrique Anderson Imbert fue el autor de una pionera Historia de la Literatura Hispanoamericana que se convirtió en una obra básica de consulta. Fue un brillante catedrático, practicó una erudición que no excluía la amenidad ni la inteligencia, dejó escritos numerosos volúmenes de ensayo y de teoría y crítica literarias. Sin embargo, prefiero recordarlo como el tejedor de una vasta obra de ficción, y sobre todo, como el que inscribió indeleblemente en el aire silencioso de la lectura, la sonrisa del Gato de Cheshire.
Así, El Gato de Cheshire (1965), se llama uno de sus libros, en homenaje al felino de Alice in Wonderland , que tenía la inquietante costumbre de corporizarse y descorporizarse, pero hacía esto último al revés: empezaba por la punta de la cola y dejaba flotando el fantasma de su sonrisa. Los textos de esta obra -ni cuentos, ni poemas, ni ensayos, sino cruce deslumbrante de géneros en una forma breve- son como esa sonrisa. Con lenguaje de la filosofía idealista (Benedetto Croce) Anderson los considera aspiraciones a la "intuición pura". Más allá de la terminología que se elija, estas "sonrisas sin gato" logran sin duda, desde su gesto perturbador y subversivo, el máximo impacto poético: "desautomatizar la percepción", como dijo Shklovski, dislocar los esquemas rutinarios y utilitarios que nos instalan en lo que llamamos, confiadamente, la realidad. Quizá en ninguna otra obra de Anderson esta voluntad de ruptura y creativa transgresión es tan intensa, deliberada y sistemática, y abarca un registro tan amplio: desde la erosión de las fronteras genéricas hasta la contra escritura de los mitos, las filosofías y las teologías que han articulado el universo imaginario y especulativo de nuestra cultura. Quizá por eso este libro de irreverente originalidad puede ser entendido como summa o cifra de todos los otros, como lugar privilegiado desde el cual leer la ficción andersoniana.
Fonte:
http://www.lanacion.com.ar/215798-la-astucia-del-gato-de-cheshire
Samuel Taylor Coleridge (Ottery St. Mary, 21 de Outubro de 1772 - 25 de Julho de 1834), comumente designado por S. T. Coleridge, foi um poeta, crítico e ensaista inglês, considerado, ao lado de seu colega William Wordsworth, um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra.
ResponderExcluirDepois de publicar alguns poemas em 1796, escreveu, em parceria com o poeta William Wordsworth, Baladas líricas (1798), que se tornou um marco da poesia inglesa e em que se destaca a sua famosa Balada do antigo marinheiro, um dos primeiros grandes poemas da escola romântica. Mais tarde, escreveu o poema simbólico Kubla Khan e o poema místico-narrativo Cristabel.
Sua principal obra em prosa, Biographia Literaria (1817), é uma série de dissertações e notas autobiográficas sobre diversos temas, entre os quais destacam-se suas observações literárias.
Influenciou toda uma geração de novos escritores, como Quincey, Byron e Shelley.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_Taylor_Coleridge
Sobre a Rosa de Coleridge e suas consequencias práticas
ResponderExcluirFernando Pessoa e O Homem de Porlock
O curioso texto de Fernando Pessoa, O Homem de Porlock, trata da composição do poema Kubla Kahn, da autoria do poeta inglês Coleridge. O episódio foi tratado por Borges no ensaio El sueño de Coleridge, em 1952. O artigo de Fernando Pessoa, publicado no nº 2 da revista Fradique, Lisboa, foi publicado em 15 de fevereiro de 1934; portanto, mais de vinte anos antes do texto do escritor argentino.
Segundo Fernando Pessoa, depois de ingerir um ‘anódino’ – de acordo com outras versões tratava-se de ópio – Coleridge adormeceu. Sobreveio um sonho extraordinário, acompanhado de ‘expressões verbais’, que ele, após o despertar, passou a transcrever. Mas foi interrompido por um visitante desconhecido, apelidado de o ‘Homem de Porlock’, nome da cidade vizinha da aldeia onde residia o poeta. Assim, o texto ficou reduzido a fragmentos, incompleto.
Talvez por isso Fernando Pessoa o denominou ‘quase-poema’, na frase aparentemente contraditória de seu artigo: “Esse quase-poema é dos poemas mais extraordinários da literatura inglesa”. A afirmação conduz a uma outra opinião, igualmente interessante, do poeta: a de que a literatura inglesa era a mais importante entre todas, à exceção da grega. Numa época em que a literatura ocidental, sobretudo a portuguesa, recebia da França sua influência maior, Fernando Pessoa se situava, como sempre, a contracorrente. Educado em Durban, na África do Sul, o inglês, de fato, lhe era tão familiar quanto o português. Além disso, foi o principal idioma de trabalho na sua atividade de “correspondente estrangeiro em casas comerciais”, conforme definiu sua profissão em nota biográfica com data de 1935.
Para Fernando Pessoa, o Kubla Khan, de Coleridge, “era o princípio e o fim de qualquer coisa espantosa, de outro mundo, figurada em termos de mistério que a imaginação não pode humanamente representar-se, e da qual ignoramos, com horror, qual poderia ter sido o enredo”. Fernando Pessoa considera que Poe – um dos seus poetas prediletos – nunca “atingiu o Outro Mundo dessa maneira nativa ou com essa sinistra plenitude”. No entanto, ao contrário do autor de O corvo – do qual foi tradutor - Coleridge não faz parte da relação de poetas que exerceram sobre o autor de Mensagem alguma influência literária.
Certamente por isso, o artigo ‘O Homem de Porlock’ consta de seus trabalhos sobre a realidade transcendente (no caso, sobre a comunicação onírica) e não entre aqueles voltados para a crítica literária.
P.S. A propósito, tomo a liberdade de transcrever a observação que recebi do amigo, professor e poeta Fred Silva, via e-mail, a respeito do artigo de Fernando Pessoa em questão:
Prezado Everardo,
acho que é o Homem de Porlock, ao contrário do que foi transcrito, que é a grande força criadora. A interrupção do devaneio é o início do trabalho. É quando ele finda que começa a surgir o poeta. Caso não fosse assim, o que distanciaria o significante nulo e o absurdo, cuja equidistância é a base da metáfora?
Fonte:
http://retabulodejeronimobosch.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html
Kubla Khan
ResponderExcluirSamuel Taylor Coleridge (1772-1834)
Em Xanadu, um palácio de prazer
Comanda-o Kubla Khan como um farol
Onde Alph, rio sagrado, vem correr
Através de cavernas sem mais ver
Ao ser humano até um mar sem sol.
Assim, milhas e milhas de bom solo,
Cerca de muro e torres polo a polo:
E lá jardins luzentes em ribeiros
Curvos e árvores com flor e incenso;
Aqui florestas velhas qual outeiros,
Estufam tons de sol em seu descenso.
Mas, oh! ideal abismo que desceu
Pela colina em cedro verdejante!
Lugar selvagem! santo e tão galante
como sob um luar minguante deu-se
A uma mulher em prantos: demoamante!
E no abismo em tumulto sem cessar,
Como se esta terra estivesse a arfar,
Uma possante fonte foi lançada,
Entre seus fortes jatos em camada
Grandes fragmentos alçam-se, granizos,
Ou áridos grãos sob o mangual com guizos;
Sempre e uma vez rochedos dançarinos
Davam-se em relance ao rio divino.
Cinco milhas em deslizar insano
Entre vales e bosques foi-se o rio
E chegou às cavernas sem feitio
E agitado entrou no vago oceano:
E nisso Kubla de longe a escutar
Vozes velhas a guerra a anunciar!
A sombra do palácio do prazer
Flutuou pelo meio das marés
Quando se ouviu a escala do envolver
Da fonte e das cavernas. E até
Era milagre de raro desvelo
Um solar de prazer, cavas de gelo!
Uma donzela com saltério
Vi certa vez como algo etéreo
Era uma virgem da Abissínia
E no saltério dela ouvia
O seu cantar do Monte Abora.
Podia reviver agora
Sua canção e sinfonia,
Esse denso deleite me teria,
Pois com longa, elevada melodia,
Eu faria aquele solar no ar,
Aquelas cavas de gelo! O solar!
Todos que ouviram os veriam lá,
E, cuidado! cuidado! a gritar
Todos. Seus olhos cintilantes
E seus cabelos flutuantes!
Três vezes tece um aro em torno dele,
E cerre a vista em sacro medo, que ele
Alimentou-se do silvestre mel
E assim bebeu o leite lá do Céu.
(Trad. José Lino Grünewald)