domingo, 12 de outubro de 2025

1.000 PALAVRAS — Que Mistério tem Clarice? Sérgio Abranches



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Susto definitivo

Há sustos que são definitivos. Deixam uma pequena bola de gelo perene incrustada naquela parte da alma que fica na altura do estômago. O susto a pegou já na rua, quando deixou o prédio. De repente, o mundo desapareceu em uma nuvem tempestuosa de dúvidas. Perdeu o rumo naquela neblina espessa e foi então que sentiu a pequena bola de gelo congelar o ponto crucial do miolo de seu ser.

— Quanto tempo?

— Um ano… dois… até cinco — respondeu seu médico pessoal, Luiz Rémy, com anuência do dr. Rabello, o especialista.

— Como são os tratamentos?

Quem respondeu desta vez foi o dr. Rabello:

— Em alguns casos recorre-se a cirurgias cada vez mais agressivas, para tentar eliminar o máximo de tecido canceroso. Mas não atende as suas condições. Radioterapia pode ajudar a reduzir o tumor e o ritmo de crescimento nos casos de detecção precoce. Não é o que estamos vendo. O caminho recomendado é a quimioterapia.

— Quanto tempo sem limitações que me aprisionem a uma cama ou cirurgias invasivas e mutilações? Falo de tempo ativo, consciente, mobilidade, lucidez, autonomia, livre-arbítrio.

— É um prognóstico difícil, mas há casos de cura e temos meios de melhorar sua qualidade de vida. Um ano, um ano e meio, dois anos, até cinco — Rémy continuou. — É imprevisível. Há muitos riscos. Com muitos cuidados e períodos menos ativos, de fraqueza, é possível garantir a qualidade de vida e até mantê-la por alguns anos. Há casos de pessoas que sobreviveram mais de cinco anos. Mas a localização do seu tumor e o estágio em que ele está tornam as coisas mais difíceis. Precisamos montar uma estratégia. A responsabilidade maior do tratamento será do Rabello, que é o oncologista. Como seu clínico e médico pessoal, acompanharei todo o processo.

— Não quero, não desejo, não posso ficar… ser mantida sem condições de vida ativa, digna.

— É um direito seu. Tudo depende de como a doença vai progredir. Às vezes, ela se torna dolorosa e seria necessário estabelecermos um procedimento para controle da dor, que pode exigir opiáceos. Minha preferência é sempre pela morfina. É possível fazer esse controle sem necessidade de internação, sem que você precise ficar permanentemente sob o efeito da droga.

— Se isso acontecer, interrompa todo tratamento que prolongue minha vida. Deixe-me ir…

— Farei o máximo para atender à sua vontade, dentro do que a lei permite e a ética aconselha.

— Não há possibilidade de que não sejam esses o diagnóstico e o prognóstico?

— Não. Mas você tem direito a uma segunda opinião, a quantas opiniões quiser. Posso lhe indicar os melhores, em São Paulo, nos Estados Unidos, na França. Não somos infalíveis, temos nossos limites.

— Não precisa. Não vou pesquisar o inevitável. Faremos como vocês disserem. — Ficou calada por um tempo. Os dois médicos respeitaram seu silêncio. — Rémy, qual o seu prognóstico. Seja sincero, você me conhece. Já é dor extrema receber essa notícia. Pior seria não ter ideia de quanto tempo ainda me resta…

— Um ano e meio… dificilmente mais que dois anos.

Ela olhou para o dr. Rabello:

— É este o meu prognóstico também.

Deixou o consultório sem pensar muito no que haviam falado. Quando saiu do vestíbulo sombrio para o dia ensolarado e ameno do outono carioca, o susto a pegou. Perdeu a noção de onde estava. O ar lhe faltou. Precisou encostar-se à parede do prédio para que a vertigem não a derrubasse. A frase que continha sua vida toda “Um ano e meio…” ecoava em sua cabeça. Não percebia mais o que fazia. Não viu quando acenou para um táxi, nem ouviu quando disse “Urca, por favor” ao motorista. Quando chegaram e o motorista lhe perguntou o endereço, disse “aqui”, sem pensar. Ele parou. Desceu do táxi, numa esquina duas quadras antes de sua casa, sem sequer se dar conta de ter pago a corrida. Fazia tudo como se estivesse hipnotizada, maquinalmente. Olhava sem enxergar. Caminhou até sua casa levada pelo instinto. Entrou. Atravessou a varanda e foi até o jardim interno. Ficou lá, parada. A titônia, amarela e exuberante, brilhava. Abelhas, vespas e borboletas pousavam em seus pistilos generosos. Mas Clarice não via aquela celebração outonal. O espanto a dominava e a única parte sensível de seu corpo era aquela na qual o gelo incorpóreo congelava sua alma e paralisava sua mente. Era toda susto. Demorou, nunca soube quanto, olhando para muito além do que Einstein chamou de delírios óticos da consciência cotidiana. Olhava o infinito e, pela primeira vez, conseguia vê-lo com toda a nitidez. Mirando-o de frente e em toda a sua extensão, o infinito não a amedrontava. Também não temia olhar para o marco que demarcava seu próprio fim no infindável. Saber que estava para chegar àquele destino, aos cinquenta e oito anos de idade, era um susto incomensurável. Mas não sentia medo. E foi a ausência do medo que a libertou daquele transe, fez o choque passar, deixando-a retomar o pensamento. A bolinha de gelo permanecia lá, onde se aconchegara, enviando ondas de frio por sua espinha. Ela não a deixaria esquecer que sabia agora o limite quase exato de sua vida.

Conseguia não ter medo. Mas não se livraria nunca da sensação desconhecida, desoladora e definitiva de que o termo de sua vida se aproximava célere. Foi-se o choque, ficou o susto. Este seria definitivo enquanto durasse. Pôde, afinal, pensar no que tinha pela frente. Vida abreviada. Queria dedicá-la aos amigos queridos e aos filhos, Jorge e Marina. Pensou com ternura neles. Tão diferentes e tão interessantes, cada um a sua maneira. E tinha uma decisão grave a tomar que havia se tornado inadiável. Seria muito mais difícil do que as relacionadas ao tratamento. Tratar-se era algo irrecusável, real e concreto. O que precisava resolver a obrigaria a atravessar o denso véu que cobria seu passado, até o decisivo momento que nunca havia pensado revisitar. Mas nele não habitavam apenas suas memórias, apagadas com firme precisão. Lá estava aquela que havia sido sua proteção e seu conforto em anos decisivos e que abandonara e fizera sofrer.

Aquela não havia sido sua primeira consulta com o médico Luiz Rémy, sobre o mal-estar diferente que havia começado a sentir. A primeira também havia sido penosa, embora amigável como sempre. Quando ligou para lhe contar dos incômodos, o médico disse que precisava vê-la, não era algo que pudesse resolver pelo telefone com um analgésico e um relaxante muscular. Ao entrar no consultório, o olhar de Rémy mostrou que suspeitava de algo mais grave. Pediu muitos exames e uma preocupante tomografia. Perguntou-lhe o que era. Ele respondeu que suspeitava de um tumor. Quis acalmá-la, suspeitas nem sempre se confirmam, disse. Mas ela conhecia a qualidade de seus diagnósticos. Ele pedia exames mais para confirmar que para saber. Na segunda consulta disse-lhe que tinha câncer no pâncreas, provavelmente em estágio avançado. Havia chamado o oncologista, Paulo Rabello. Foi quando tiveram a conversa que lhe provocou o maior susto da vida. O inesperado lhe fazia uma surpresa angustiosa, deixando sua alma em sobressalto. Choque sem medo que a afogou em um oceano de indagações.

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Que Mistério tem Clarice?

Sérgio Abranches

São Paulo: Editora Globo, 2014

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O ano é 2012. Clarice, escritora e professora bem-sucedida, recebe uma notícia inesperada. Tem um tumor maligno e só mais alguns meses de vida. Final dos anos 60. Uma adolescente sai de uma delegacia, em São Paulo, com o vestido encharcado de sangue. Seu rumo é a clandestinidade. Em 1972, uma moça chamada Amália visita cidades do interior de Minas Gerais, dizendo estar à procura de uma tia. Réveillon de 1978. Um casal de jovens amanhece nas areias de Ipanema sem saber que aquela noite mudaria suas vidas para sempre. O novo romance de Sérgio Abranches parte dos dias atuais para, numa viagem por tempos e paisagens distintas, narrar a história de uma mulher que acaba se confrontando com um passado que julgara esquecido. Numa trama que alia engenho e delicadeza, usa a ficção para abordar temas caros ao Brasil contemporâneo, como a culpa nos processos históricos, as faces movediças da verdade, o autoritarismo e a indiferença. Seu ponto de partida é a convivência de Clarice com os dois filhos. No momento em que ela recebe o diagnóstico, Jorge, o primogênito, está na África, fotografando. Marina está em uma cidade histórica da Boêmia, escrevendo reportagens de turismo. Logo eles se reúnem à mãe para desfrutarem momentos de cumplicidade, em longas conversas sobre literatura, filosofia e história. E é aí que se revela uma das características mais marcantes deste livro: a mistura de prosa e ensaísmo. Com referências a Kafka, Hemingway, Garcia Lorca, Hermann Hesse e Wittgenstein, os diálogos e pensamentos de Clarice dão vida a debates cheios de nuances, em busca de clareza. Com uma narrativa envolvente, o romance converge para um ponto central: qual é, afinal, o segredo de Clarice? Na teia que se desenha ao redor dessa pergunta, o autor cria um elogio à coragem, à alteridade e ao prazer de estar vivo. Ante a morte, a protagonista se volta, resoluta, para a celebração da vida e de suas contradições.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Primeiras Mil Palavras — Sátántangó de László Krasznahorkai


Aqui estão as primeiras 1k palavras deste romance escrito pelo húngaro László Krasznahorkai vencedor do prêmio Nobel de Literatura deste ano (2025). 

1. A notícia de que eles estavam chegando

Numa manhã do final de outubro, não muito antes que as primeiras gotas das chuvas impiedosamente longas de outono se desprendessem sobre a terra rachada, ressequida, do lado ocidental do assentamento (para que depois o mar pútrido de lama tornasse intransitáveis os caminhos, e também a cidade ficasse inacessível), Futaki despertou ao som de sinos. A quatro quilômetros de distância a sudoeste, nas antigas terras de Hochmeiss, existia uma capela solitária, porém lá não apenas não havia sino como a torre desabara no tempo da guerra, ao passo que a cidade, por sua vez, ficava muito afastada para que dela chegasse algum som. Além disso, o badalar plangente, triunfante, não lembrava sinos distantes, mais parecia que o vento o tinha trazido de bem perto (“Como se viesse do moinho…”) para aqueles lados. Ele apoiou os cotovelos no travesseiro para olhar pela janela minúscula da cozinha, mas através do vidro meio embaçado o assentamento, imerso no amanhecer azulado e no gemido dos sinos que aos poucos silenciaram, ainda estava mudo e inerte: no extremo oposto, entre as casas distantes umas das outras, somente pelas cortinas da janela do médico se filtrava uma luminosidade, nesse caso porque havia anos o morador não conseguia adormecer no escuro. Ele prendeu a respiração para, na vazante do estrépito dos sinos, não perder uma única ressonância extraviada, porque desejava saber a verdade (“Você com certeza ainda está dormindo, Futaki…”) e, para tanto, precisava de cada som, ainda que fosse singular. Com seus passos míticos, macios, de gato, ele se dirigiu, manquitolando sobre a pedra gelada da cozinha, à janela (“Não há ninguém acordado? Ninguém está ouvindo? Mais ninguém?”), abriu os painéis e se debruçou para fora. Um ar cortante, úmido, o golpeou, por um instante ele foi obrigado a fechar os olhos; e por conta do cacarejo dos galos, dos gritos distantes e do zunido agudo, implacável, do vento que minutos antes se alçara, no silêncio profundo de nada serviu aguçar os ouvidos, ele não escutou nada além das batidas surdas do próprio coração, como se tudo fosse uma brincadeira espectral da vigília (“… Como se alguém quisesse me assustar”). Contemplou tristemente o céu ameaçador, os restos queimados do verão cheio de gafanhotos, e de súbito viu passar pelo mesmo ramo de acácia a primavera, o verão, o outono e o inverno, como se sentisse de leve que na esfera imóvel da eternidade a totalidade do tempo gracejasse, enganando, ao superar os obstáculos da confusão reinante, a planura demoníaca, e, uma vez criadas as alturas, ele falseasse, de modo que parecesse inevitável, a loucura… e se viu no crucifixo sobre o berço e o caixão debatendo-se com dificuldade, para, por fim — sem braçadeiras nem condecorações —, se entregar, desnudo, a uma condenação explosiva, seca, nas mãos dos lavadores de mortos, para o riso dos coureiros incansáveis, em que ele depois se veria obrigado a reconhecer sem piedade a medida das coisas humanas, sem que uma única trilha o conduzisse de volta, porque nessa hora ele saberia que se metera com carteadores desonestos numa partida jogada desde bem antes, em cujo final eles lhe roubariam a última arma, a esperança de que voltaria a encontrar em algum momento o caminho de casa. Virou a cabeça para o lado, na direção das construções um dia cheias e barulhentas, hoje decrépitas e abandonadas, na parte oriental do assentamento, e observou amargurado os primeiros raios de sol inchados, vermelhos que irrompiam pelas frestas do teto do estábulo meio destelhado, quase em ruínas. “Afinal, preciso me decidir. Não posso ficar aqui.” Voltou para debaixo da colcha quente, apoiou a cabeça nos braços, mas não conseguiu fechar os olhos: os sinos espectrais o horrorizaram, porém não mais que o repentino silêncio, o mutismo ameaçador, porque sentiu que tudo poderia acontecer. Mas, como ele, nada se moveu na cama, até que entre os objetos silenciosos à sua volta iniciou-se de repente um diálogo (o armário estremeceu, uma panela trepidou, um prato de porcelana deslizou para seu lugar) e ele então de súbito se virou, deu as costas para o suor que escorria da sra. Schmidt, palpou com uma das mãos o copo de água junto da cama e o bebeu de uma vez. Com isso ele se libertou do medo infantil; suspirou, limpou a transpiração da testa e, como sabia que Schmidt e Kráner somente naquela hora tocariam os bois para levá-los do Szikes ao estábulo de Gazda, ao norte do assentamento, onde por fim eles receberiam o dinheiro amargo referente a nove meses de trabalho, e portanto um bom par de horas se passaria até que de lá chegassem em casa, decidiu que tentaria dormir mais um pouco. Fechou os olhos, virou-se de lado, abraçou a mulher, e quase tinha cochilado quando de novo ouviu os sinos. “Droga!” Levantou a colcha, mas no instante em que os pés descalços, calejados, tocaram o piso de pedra da cozinha, os sons de repente cessaram (“Como se alguém tivesse acenado para que parassem…”). Ficou sentado, encolhido na beirada da cama, com as mãos entrelaçadas no colo, em seguida seu olhar pousou no copo vazio: a garganta estava seca, o pé direito formigava, e ele não teve coragem de se deitar de novo nem de se levantar. “Vou embora, o mais tardar amanhã.” Examinou em sequência os utensílios ainda aproveitáveis da cozinha sombria, o fogão sujo de gordura queimada e restos de comida, a cesta de alça esgarçada debaixo dele, a mesa de pés bambos, os retratos empoeirados de santos na parede, as panelas e travessas amontoadas no canto junto da porta, e por fim se voltou para a diminuta janela já iluminada, viu os galhos desnudos da acácia curvada diante dela, o teto afundado da casa dos Halics, a chaminé tombada, a fumaça que ela exalava, e disse: “Vou pegar a minha parte e vou embora hoje de noite mesmo!… O mais tardar amanhã. Amanhã de manhã”. “Ai, meu Deus!”, exclamou a seu lado a sra. Schmidt […]

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Copyright © 1985 by László Krasznahorkai

Ed. Companhia da Letras, 2022

Título original: Sátántangó

Capa: Guilherme Xavier

Imagem de capa: Mulher e Monstro, década de 1960, xilogravura impressa sobre papel de Manuel Messias dos Santos, 28 × 30,5 cm. Reprodução de Jaime Acioly.) 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Memórias de sabores na ficção brasileira - Lançamento

O caldeirão já está fervendo. Vem que tem: Livro na Amazon


Memórias de Sabores na Ficção Brasileira é um delicioso mergulho nos sabores da literatura nacional. Neste terceiro volume da coleção Banquete Literário, o pesquisador Herman Augusto Schmitz reúne excertos de romances brasileiros em que a comida desperta lembranças, afetos e identidades. São cenas que evocam o paladar da infância, dietas excêntricas, menus históricos, refeições no campo ou temperos trazidos por estrangeiros e culturas étnicas. Com prefácio de Alamir Aquino Corrêa, o livro apresenta uma curadoria cuidadosa, dividida em introduções temáticas como Família, Hábitos, Fome, Rural e outras. Muito mais que uma coletânea de trechos, esta obra é um convite à reflexão sobre a presença simbólica da alimentação na construção de personagens, tramas e territórios culturais. Leitura essencial para amantes da literatura, estudiosos da cultura e apaixonados pela arte de comer com palavras.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Jean Cocteau - Epigrafias

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Epigrafias - Herman Augusto Schmitz — LANÇAMENTO!!!


 

LANÇAMENTO !!! https://a.co/d/9X6oGpK

✨ Epigrafias: Uma Antologia de Epígrafes

Organizada com maestria por Herman Augusto Schmitz, esta obra reúne 1.300 citações escolhidas dentre mais de 5.000 livros para levar você por uma jornada única através do pensamento humano.

📚 O que você encontrará:

Curadoria inteligente: Blocos temáticos que conectam ideias – de Artes, Escritores & Livros a Amor & Romance, Natureza e muito mais!

Fragmentos culturais: Aforismos, versos e confissões que dialogam com mentes brilhantes como Shakespeare, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Oscar Wilde e tantos outros.

Inspiração para criadores: Ideal para leitores, escritores, designers e todos que buscam inspiração e novas perspectivas.

📱 Formato Kindle: Leve essa riqueza de sabedoria para qualquer lugar e marque suas citações favoritas com um clique!

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sábado, 1 de fevereiro de 2025

Miguel Ángel Asturias - Las cosas que pasan…

Miguel Ángel Asturias Rosales foi um renomado escritor e diplomata guatemalteco, nascido em 19 de outubro de 1899, na Cidade da Guatemala, e falecido em 9 de junho de 1974, em Madrid, Espanha. Ele é amplamente reconhecido como um dos principais expoentes da literatura latino-americana do século XX. 



domingo, 26 de janeiro de 2025

domingo, 24 de novembro de 2024

Campos de Carvalho - Se eu fosse Deus


 

Samuel Beckett - Escritor


 

Baudelaire - Sobre os sonhos


 

Como escrevo - Paul Auster (trechos de entrevista a Michael Wood)

Como escrevo

Paul Auster (trechos de entrevista a Michael Wood da Paris Review)



ENTREVISTADOR

Vamos começar falando sobre seu método de trabalho. Sobre como o senhor escreve.

PAUL AUSTER

Sempre escrevi à mão. Quase sempre com uma caneta tipo tinteiro, mas às vezes a lápis — especialmente para fazer correções. Se fosse capaz de escrever direto no computador ou numa máquina de escrever, eu escreveria. Mas teclados sempre me intimidaram. Nunca consegui pensar direito com meus dedos naquela posição. Uma caneta é um instrumento muito mais primitivo. A gente sente as palavras saindo do corpo para, então, gravá-las na página. Escrever sempre teve esse caráter tátil para mim. É uma experiência física.

ENTREVISTADOR

E o senhor escreve em cadernos. Não em blocos ou em folhas avulsas.

AUSTER

Sim, sempre em cadernos. E tenho um fetiche em particular pelos cadernos quadriculados — aqueles com quadradinhos no lugar das linhas.

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Extraído de: The Paris Review Interviews

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Café em Prosa - Cenas de café da manhã na literatura brasileira

Café em Prosa 


Banquete Literário: Cenas de Café da Manhã na Literatura Brasileira

Este primeiro volume da coleção Banquete Literário convida você a saborear as manhãs de personagens da literatura brasileira. Cenas de Café da Manhã na Literatura Brasileira é uma seleção única de trechos literários que revela o início do dia de personagens em crônicas, romances e contos. Do café coado ao pão fresco, cada passagem traz detalhes que revelam hábitos e gostos — um retrato da vida doméstica e cotidiana de diversas épocas e regiões.

Organizado por Herman Augusto Schmitz, este volume faz parte de uma série dedicada a explorar como a culinária se reflete na ficção. Uma leitura deliciosa tanto para os apaixonados por literatura quanto para os curiosos sobre as tradições alimentares brasileiras. Em breve, outros volumes da coleção trarão cenas de almoços, jantares, festas e muito mais.

Prepare-se para mergulhar em uma viagem pela cultura alimentar do Brasil, através das palavras de nossos grandes autores!


Café em Prosa 

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Francesco Alberoni - A inveja

 


Jawaharlal Nehru — O tempo da ciência e da espiritualidade

 


Donizete Galvão — Fachada (poema)

 


Fernando Pessoa — Saber que a vida é verdadeira

 



Eurípedes - Questione tudo


 

Carlos Drummond de Andrade - A ilusão do migrante

 


Carl Jung - O inferno das paixões

 




quarta-feira, 21 de junho de 2023

A Rosa Mística — Poemas de Cleber Pacheco - Posfácio de Herman Augusto Schmitz (2023)

25 anos de poesia

Antes de tudo quero agradecer ao amigo Cleber Pacheco pelo convite para fazer parte dessa sua bem vinda comemoração de aniversário poético de 25 anos de pratica e de sensibilidade.

Um livro nunca está sozinho. São filhos que o autor cria com muito carinho. Sua obra já considerável entre contos e romances, sempre se pontuou com a presença da poesia. Sendo esta, a combinação das muitas faculdades necessárias para se escrever em prosa, acrescida com a musicalidade em seu ritmo próprio, entre o semântico e o fonético, com suas pausas e seus timbres, trazendo ao leitor reflexões do seu eu-lírico.

Em seu último livro de poemas "Poemas orgânicos", Cleber faz um mergulho no corpo biológico, nas entranhas da vida e da natureza, e de onde ele renasce rejuvenescido.

Em "A Rosa Mística" o poeta perscruta a alma, o sentido do oculto, do alegórico e do hermenêutico. Trazendo ao nível do leitor, reflexões com a autoridade de quem pratica o espiritualismo, especialmente o oriental ao longo dos anos, e é a essa sua voz interior, nascida da meditação e da contemplação, que concordamos em ouvir no formato de uma poesia iniciática.

A rosa, por sua cor de sangue derramado, já é um símbolo de renascimento místico. Podemos contemplá-la como uma mandala ou um centro de força, como no símbolo Rosacruz, ou a rosa de sete pétalas, cada uma evocando um metal. No caso dessa poética, esse simbolismo floral é também o de uma manifestação de saída das águas primordiais, acima das quais o poeta se eleva e abre a morada do seu ser.

Os círculos da rosa, também simbolizam um final de processo, onde eliminou-se as arestas e se mostra um produto final, com uma ordem de ideia, de simetria, de lógica e de claridade.

Cleber Pacheco consegue uma atmosfera anímica e afetiva, sem acentuar nenhuma corrente gnóstica específica, pois nos deparamos com elementos do catolicismo, do espiritismo, do paganismo e da espiritualidade oriental, em uma conjugação ecumênica com uma linguagem poética de grande compressão no encadeamento dos versos e uma cuidadosa pontuação, algo sempre arriscado em termos de poesia, mas que aqui atuam como marcações precisas para o fôlego do leitor.

Espero que esses versos tenham o alcance de público que ele merece, pois temos enfim, uma cosmologia poética altamente espiritual, de grande auxílio nesses tempos em que vivemos, entre tantas descrenças, materialismos e esse desmedido desprezo pela essência humana.

Meus parabéns e boa sorte!

Herman Augusto Schmitz

Poeta e Mestre em Letras – Estudos literários (UEL)

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A Rosa Mística

Cleber Pacheco (Poemas)

Editora Penalux (www.editorapenalux.com.br)

2023



sábado, 15 de abril de 2023

Importante é Demonstrar - Arthur Conan Doyle (Sherlock Holmes)

 


Citação inspiradora de Arthur Conan Doyle, o criador do famoso personagem Sherlock Holmes. Segundo o qual, "O importante não é o que sabemos, meu caro Watson, mas sim o que podemos demonstrar." Essa frase nos lembra que ter conhecimento é importante, mas ainda mais importante é ser capaz de aplicar esse conhecimento na prática e demonstrar seus resultados.

quinta-feira, 9 de março de 2023

A "haute cuisine" norte-americana em Rex Stout

 Contribuições à haute cuisine americana

Rex Stout

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Berin deixou passar. Abriu um sorriso. — Mas você não pretende discutir os restos da mesa conosco, não é?

— Não. O senhor Servan me convidou para falar sobre o que ele definiu como Contributions américaines à la haute cuisine.

— Bah! — Berin resmungou. — Não há nenhuma.

Wolfe ergueu as sobrancelhas. — Nenhuma, senhor?

— Nenhuma. Dizem que se pode encontrar uma boa comida nos lares americanos, mas ainda não a experimentei. Ouvi falar no cozido da Nova Inglaterra, em broa de milho, chowder de mariscos e gravy ao leite. Pratos para as multidões, que não devem ser desprezados quando bem preparados. Mas não são para os mestres. — Ele riu de novo. — Essas coisas estão para a haute cuisine assim como as canções românticas estão para Beethoven e Wagner.

— Diga — Wolfe apontou um dedo para ele —, você já comeu cágado refogado na manteiga, com caldo de galinha e xerez?

— Não.

— E já experimentou um filé grelhado servido na tábua, com cinco centímetros de altura, soltando seu rubro suco na faca, guarnecido com salsa-americana e fatias de lima cortadas na hora, acompanhado de purê de batata que derrete na boca e rodeado de fatias grossas de cogumelos frescos malpassados?

— Não.

— Ou a dobradinha créole de Nova Orléans? Ou o presunto Boone County do Missouri, assado com vinagre, melado, Worcestershire, sidra doce e ervas? Ou galinha Marengo? Ou frango em molho de ovo talhado, com passas, cebolas, amêndoas, xerez e linguiça mexicana? Ou opossum do Tennessee? Ou lagosta Newburgh? Ou sopa de peixe da Filadélfia? Pelo que posso perceber, ainda não. — Wolfe apontou o dedo para ele. — O paraíso da gastronomia é a França, eu sei. Mas seria bom, antes de ir até lá, dar uma volta por aqui. Eu comi dobradinha à moda de Caen no Pharamond, em Paris. É sensacional, mas não supera a dobradinha créole, que, por evitar o excesso de vinho, jamais agride o estômago. Na minha juventude, quando eu me movia com mais facilidade, provei a bouillabaisse em Marselha, seu berço e seu templo, e só servia para encher a pança, lastro para estivadores, comparada com a que se prepara em Nova Orléans! Se a caranha vermelha não estiver disponível...

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Rex Stout (1886-1975)

Cozinheiros Demais

Título original americano

TOO MANY COOKS

1938

Tradução:

CELSO NOGUEIRA

Companhia das Letras

1991

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ORELHAS

      Somente um encontro dos quinze maiores chefs do mundo poderia tirar Nero Wolfe de sua casa em Nova York e levá-lo a tomar um trem para West Virginia. Ou teria o obeso detetive, que detesta tudo o que se move, outro motivo mais palatável para se submeter a essa horrível provação?

      Esse é apenas o mistério inicial deste livro preparado com requinte por Rex Stout para os gourmets do romance policial. Acompanhado pelo fiel Archie Goodwin, que se autodefine como “secretário, guarda-costas, gerente, assistente de detetive e bode expiatório” do sibarita da rua 35, Nero Wolfe leva seu corpanzil para a opípara reunião dos Quinze Maîtres, que ocorre a cada cinco anos chez o chefe mais velho. Ele é nada menos que o convidado de honra, encarregado da espinhosa tarefa de fazer um discurso sobre as Contributions américaines à la haute cuisine para uma plateia de chefes europeus desdenhosos e temperamentais.

      Mas as lautas refeições e os acepipes refinados ganham um ingrediente inesperado: assassinato. E a vítima não era do gosto de vários dos cozinheiros presentes: qual deles teria usado a faca de modo tão indelicado? Wolfe tenta ficar de fora do caso, mas as circunstâncias o obrigam a meter a mão na massa e tentar resolver o crime depressa, a tempo de tomar o trem de volta para Nova York.

      Mulheres fatais, policiais do interior pouco acostumados às extravagâncias de Wolfe, algumas pitadas de ironia e de crítica apimentada ao racismo e um texto absolutamente ao ponto completam o menu desta obra em que Rex Stout põe em ação um dos detetives mais singulares e extraordinários da história do romance policial.

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Rex Stout nasceu em Noblesville, Indiana, em 1886. Teve fama de menino-prodígio em matemática, sendo exibido em feiras populares. Pouco frequentou a universidade e alistou-se na Marinha, onde serviu no iate do presidente Theodore Roosevelt. Trabalhou como escritor free-lance, guia turístico e contador itinerante. Mais tarde, inventou um sistema bancário para escolas que lhe rendeu bom dinheiro. Em 1927, retirou-se para Paris e dedicou-se à literatura. Foi ativo na luta contra o nazismo e, depois, contra as armas nucleares. Morreu em 1975, numa villa suntuosa à beira do Mediterrâneo.



Dobradinha créole de Nova Orléans

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(Postagem original em: http://bit.ly/3Jqnk6T )