SILÊNCIO BRILHANTE
Spencer Holst
Dois ursos Kodiak nativos do Alasca entraram para um pequeno circo em que se apresentavam numa parada noturna puxando um carro coberto por uma lona. Os dois foram ensinados a dar cambalhotas, a girar, a ficar apoiados em suas cabeças, e a dançar sobre suas pernas traseiras, pata com pata, os passos em harmonia. Debaixo dos holofotes os ursos dançarinos, um macho e uma fêmea, logo se tornaram os favoritos da multidão. O circo foi para o sul numa turnê pela costa oeste através do Canadá até a Califórnia e continuou para baixo até o México, passando pelo Panamá em direção à América do Sul, cobrindo os Andes na extensão do Chile em direção àquelas ilhas mais ao sul da Terra do Fogo. Lá um jaguar atacou o ilusionista, e depois feriu mortalmente o treinador de animais, e as pessoas, chocadas, debandaram em desalento e horror. Na confusão os ursos tomaram o seu próprio caminho. Sem um dono, eles vagaram a sós pela selva naquelas ilhas subantárticas densamente arborizadas e assoladas por ventos violentos. Completamente isolados das pessoas, numa ilha remota e deserta, e numa atmosfera que lhes era ideal, os ursos se acasalaram, prosperaram e se multiplicaram, e depois de numerosas gerações povoaram toda a ilha. De fato, passados alguns anos, os descendentes dos dois seguiram para meia dúzia de ilhas adjacentes, e depois de 70 anos, quando os cientistas finalmente encontraram e com entusiasmo estudaram os ursos descobriu-se que todos eles, levando-se em conta que eram ursos, apresentavam esplêndidos truques circenses.
Às noites, quando o céu está limpo e a lua cheia eles se reúnem para dançar. Reúnem os filhotes e os jovens ursos num círculo ao seu redor. Reúnem-se e se juntam, abrigados do vento no centro de uma cratera circular e cintilante produzida por um meteorito que havia caído num leito de calcário. Suas paredes vítreas são brancas como cal, seu chão plano está coberto com cascalhos brancos, e, além disso, o local conserva-se escoado e seco. Nenhuma vegetação cresce por ali. Quando a lua surge no céu, a luz refletida nas paredes inunda a cratera como uma poça de claridade, fazendo com que o a superfície do fundo seja duas vezes mais brilhante do que qualquer outro lugar naquela vizinhança. Cientistas especulam que originalmente a lua cheia lembrava os dois ursos dos holofotes do circo, e por isso eles dançavam. Ainda assim alguém poderia perguntar que músicas os descendentes dançavam? Pata com pata, os passos em harmonia... Que música eles podem ouvir, afinal, dentro de suas cabeças enquanto dançam sob a lua cheia e a Aurora Austral, enquanto dançam imersos num silêncio brilhante?
in Flash Fiction: 72 very short stories. Nova Iorque: Norton, 1992.
Spencer Holst (1926–2001) was an American writer and storyteller.
ResponderExcluirThough he published several collections of stories, as well as volumes of translations, Holst was known primarily for the captivating live performances of his work that he regularly conducted, particularly in the New York City area, in a distinctive mellifluous, rhythmically cadenced voice. In his heyday he was often heard on the radio on New York's listener-sponsored radio station, WBAI.
For many years until his death, he lived at Westbeth Artists Housing in NYC. In addition to presenting readings there, he exhibited his watercolour paintings, many based on invented calligraphic motifs. The paintings were often shown with lengthy titles attached, some were small stories in themselves.
The typical Holst story might be a gentle but twisted fable, such as the tale of a frog who, having become addicted to morphine during a laboratory experiment, was rejected by the woman whose kiss transformed him back into a prince because he was, after all, only a junkie. Holst also wrote a number of paragraph-length prose pieces, which distilled a brief scene or anecdote into a glimmering, evanescent koan.
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