O Presente, Man Ray. |
Man Ray pensava em
seu ferro de engomar cheio de pregos e outros estupendos objetos quando
afirmou: De maneira nenhuma eles deviam ser confundidos com as pretensões
estéticas ou o virtuosismo plástico que em geral se espera das obras de arte.
Naturalmente - acrescentava a corujinha de óculos pensando na tal senhora -, os
visitantes da minha exposição ficavam perplexos e não se atreviam a
divertir-se, porque uma galeria de pintura é considerada um santuário onde não
se brinca com a arte.
E não se atreviam a
divertir-se. Man Ray, como você gostaria de ter ouvido o que eu ouvi alguns
meses atrás em Genebra, onde uma galeria da cidade velha prestava uma homenagem
ao Dadá. Lá estava justamente o seu ferro cheio de pregos, e enquanto a senhora
lá de cima o contemplava com gélido respeito, uma garota ruiva mantinha esse
diálogo exemplar com outra quase loura:
— No fundo, não é
tão diferente do meu ferro.
— Como assim?
— É, com esse você
se espeta e com o meu você se queima.
***
Julio Cortázar – A
Volta ao Dia em 80 Mundos, 1967.
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