Mau humor
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Os poetas, com os seus moinhos de imagens, rodando e rodando e rodando na manivela dos ritmos, mais parecem uns micos de realejo... Tão engraçadinhos!
Mas essa musiquinha não resolve...
E vejo que, em torno, na praça do mercado, é cada vez mais rara a costumeira aglomeração de basbaques e ociosos...
E eu, se não fora o compromisso da hora H, não escrevia nada hoje. Nem teria escrito nunca. Pelo simples motivo de que, tudo quanto me venha acaso à cabeça, já no mesmo instante, e por isso mesmo, deixa de ser novidade para mim.
De modo que me aborreço muito antes do leitor...
Não sei o que fazer desta minha máquina de pensar, seu moço. Sua falta de surpresa desinteressa-me.
E não há a mínima esperança.
Pois até seus desarranjos redundam tão somente em novas combinações dos mesmíssimos elementos, como um caleidoscópio que fosse rolando escada abaixo. E ainda que eu jogasse para as alturas, iria dar no mesmo.
Em vista disso, alguns me aconselham a escrita automática, que é afinal de contas o que os surrealistas consideram poesia pura.
Mas isto me lembra, e muito, o baixo espiritismo, de tão pífios resultados...
E em última análise, não é mais ou menos o que se tem feito em todas as épocas, com o clássico automatismo do metro e da rima?
Ah! os poetas com os seus moinhos de imagens mais parecem etc. etc.
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