Georges Simenon - O Homem na Rua
Veja mais no meu livro BJ Grafados:
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Berin deixou passar. Abriu um sorriso. — Mas você não pretende discutir os restos da mesa conosco, não é?
— Não. O senhor Servan me convidou para falar sobre o que ele definiu como Contributions américaines à la haute cuisine.
— Bah! — Berin resmungou. — Não há nenhuma.
Wolfe ergueu as sobrancelhas. — Nenhuma, senhor?
— Nenhuma. Dizem que se pode encontrar uma boa comida nos lares americanos, mas ainda não a experimentei. Ouvi falar no cozido da Nova Inglaterra, em broa de milho, chowder de mariscos e gravy ao leite. Pratos para as multidões, que não devem ser desprezados quando bem preparados. Mas não são para os mestres. — Ele riu de novo. — Essas coisas estão para a haute cuisine assim como as canções românticas estão para Beethoven e Wagner.
— Diga — Wolfe apontou um dedo para ele —, você já comeu cágado refogado na manteiga, com caldo de galinha e xerez?
— Não.
— E já experimentou um filé grelhado servido na tábua, com cinco centímetros de altura, soltando seu rubro suco na faca, guarnecido com salsa-americana e fatias de lima cortadas na hora, acompanhado de purê de batata que derrete na boca e rodeado de fatias grossas de cogumelos frescos malpassados?
— Não.
— Ou a dobradinha créole de Nova Orléans? Ou o presunto Boone County do Missouri, assado com vinagre, melado, Worcestershire, sidra doce e ervas? Ou galinha Marengo? Ou frango em molho de ovo talhado, com passas, cebolas, amêndoas, xerez e linguiça mexicana? Ou opossum do Tennessee? Ou lagosta Newburgh? Ou sopa de peixe da Filadélfia? Pelo que posso perceber, ainda não. — Wolfe apontou o dedo para ele. — O paraíso da gastronomia é a França, eu sei. Mas seria bom, antes de ir até lá, dar uma volta por aqui. Eu comi dobradinha à moda de Caen no Pharamond, em Paris. É sensacional, mas não supera a dobradinha créole, que, por evitar o excesso de vinho, jamais agride o estômago. Na minha juventude, quando eu me movia com mais facilidade, provei a bouillabaisse em Marselha, seu berço e seu templo, e só servia para encher a pança, lastro para estivadores, comparada com a que se prepara em Nova Orléans! Se a caranha vermelha não estiver disponível...
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Rex Stout (1886-1975)
Cozinheiros Demais
Título original americano
TOO MANY COOKS
1938
Tradução:
CELSO NOGUEIRA
Companhia das Letras
1991
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ORELHAS
Somente um encontro dos quinze maiores chefs do mundo poderia tirar Nero Wolfe de sua casa em Nova York e levá-lo a tomar um trem para West Virginia. Ou teria o obeso detetive, que detesta tudo o que se move, outro motivo mais palatável para se submeter a essa horrível provação?
Esse é apenas o mistério inicial deste livro preparado com requinte por Rex Stout para os gourmets do romance policial. Acompanhado pelo fiel Archie Goodwin, que se autodefine como “secretário, guarda-costas, gerente, assistente de detetive e bode expiatório” do sibarita da rua 35, Nero Wolfe leva seu corpanzil para a opípara reunião dos Quinze Maîtres, que ocorre a cada cinco anos chez o chefe mais velho. Ele é nada menos que o convidado de honra, encarregado da espinhosa tarefa de fazer um discurso sobre as Contributions américaines à la haute cuisine para uma plateia de chefes europeus desdenhosos e temperamentais.
Mas as lautas refeições e os acepipes refinados ganham um ingrediente inesperado: assassinato. E a vítima não era do gosto de vários dos cozinheiros presentes: qual deles teria usado a faca de modo tão indelicado? Wolfe tenta ficar de fora do caso, mas as circunstâncias o obrigam a meter a mão na massa e tentar resolver o crime depressa, a tempo de tomar o trem de volta para Nova York.
Mulheres fatais, policiais do interior pouco acostumados às extravagâncias de Wolfe, algumas pitadas de ironia e de crítica apimentada ao racismo e um texto absolutamente ao ponto completam o menu desta obra em que Rex Stout põe em ação um dos detetives mais singulares e extraordinários da história do romance policial.
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Rex Stout nasceu em Noblesville, Indiana, em 1886. Teve fama de menino-prodígio em matemática, sendo exibido em feiras populares. Pouco frequentou a universidade e alistou-se na Marinha, onde serviu no iate do presidente Theodore Roosevelt. Trabalhou como escritor free-lance, guia turístico e contador itinerante. Mais tarde, inventou um sistema bancário para escolas que lhe rendeu bom dinheiro. Em 1927, retirou-se para Paris e dedicou-se à literatura. Foi ativo na luta contra o nazismo e, depois, contra as armas nucleares. Morreu em 1975, numa villa suntuosa à beira do Mediterrâneo.