domingo, 21 de setembro de 2014

O Suplício da Esperança — de Villiers de L'Isle-Adam por João Alphonsus

O senhor conhece um conto de Villiers de L'Isle-Adam, o Suplício da Esperança? Não?

Um inquisidor determinou que se suplicie uma de suas vítimas, como último recurso para tentar a salvação de sua alma. Com a esperança de poder fugir da prisão, o homem descobre que a porta do calabouço foi esquecida com a fechadura aberta, empurra-a e sai pelos intermináveis corredores; os frades passam por ele; sem vê-lo em algum cotovelo de muro em que procurava se ocultar; um deles, que vem discutindo com outro sobre alto problema teológico, pousa sobre o fugitivo o olhar distraído, e o fugitivo se imobiliza num calafrio gelado, dentro de um desvão de parede; mas ambos distraidamente se afastam repetindo, entre outras palavras pias, o nome de Cristo: o fugitivo já está vendo a porta de saída, lá fora há luz e ar; se aproxima da liberdade, quando se sente abraçado pelo próprio inquisidor, que o chama de filho e lhe diz para não fugir dali, para não fugir de Cristo…

É assim que guardei a recordação do conto, lido naquele tempo.


In: "Sardanapalo", João Alphonsus. Os Melhores Contos de João Alphonsus. Seleção de Afonso Henriques Neto. São Paulo: Global, 2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário