Guillermo Cabrera Infante |
A linguagem de Offenbach
Offenbach se comunica conosco com algo mais do que miados. Seu repertório de sons forma uma linguagem peculiar em que o ouvido treinado busca e encontra significados.
Brrr é um ronrom de prazer e de contentamento.
Burrr é o ronrom alongado até uma forma de protesto: não se deve continuar acariciando-o, ou se deve acariciá-lo em outra parte do corpo.
Miau é a saudação matinal, uma espécie de bom-dia que Offenbach nunca deixa de dar.
Miauuu é para pedir algo: de comida até a abertura de uma janela para sentir o cheiro do jardim.
Miuu é sempre uma advertência: significa que está presente e, portanto, não se deve pisoteá-lo, ou, o que é pior, passar por cima.
Miu é uma simples saudação a qualquer hora do dia.
Miawou é a saudação a quem volta para casa. É também uma forma de queixa: ficou muito tempo sozinho.
Mia miau é uma exigência: comida atrasada ou alguém que não quer carregá-lo ou ceder-lhe um assento.
Miau simples, mas seguido ou precedido de bocejo, é soberano aborrecimento: não se deve esquecer que Offenbach é puro-sangue e todo o comportamento nele é francamente soberano: não pede, exige.
Miaorru é quando quer brincar.
Rorroua é sempre rugido: atavismo da selva ou resíduos do macho que ainda existem nele.
Guillermo Cabrera Infante, Offenbach, 1998.
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