O RATO E O EREMITA
"O ignóbil que atinge uma posição elevada atenta contra a vida do seu amo, como o rato que, tendo chegado a ser tigre, tentou matar o eremita".
Vivia, no bosque da penitência consagrado ao grande Gautama, um eremita chamado Maátapas.
Um dia, encontrou esse eremita um ratinho que ia sendo carregado por um corvo. O eremita, compassivo por natureza, alimentou-o com grãos de arroz e passou a criá-lo.
Até o dia em que surgiu um gato correndo atrás do rato para comê-lo. Ao vê-lo, correu o rato a se esconder no colo do eremita. Disse então o eremita:
— Rato, transforma-te tu em gato.
Transformado em gato, porém, fugia o animal ao ver um cão. Disse então o eremita:
— Se tens medo do cão; transforma-te tu também em cão.
Transformado em cão, porém, tinha o animal medo do tigre.
Transformou então o eremita o cão em tigre.
Para o eremita, entretanto, aquele tigre era tido como rato. Assim também era para os que viam o eremita e o tigre, que diziam:
— Foi este eremita que transformou o rato em tigre.
Ouvindo tais palavras, pensou um dia o tigre:
— Enquanto vida tiver este eremita, vida terá a infamante história da minha forma primitiva.
Depois de assim refletir, correu o tigre para matar o eremita. Percebendo-lhe a intenção, disse então o eremita:
— Retorna tu a tua forma de rato.
E assim se fez.
PANCHATANTRA (300 a.C.)
Tradução de Celina Portocarrero
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