A Berinjela -
Eduardo Galeano
Instruções para
triunfar na profissão
Há mil anos, disse o
sultão da Pérsia:
— Que maravilha.
Ele nunca havia
provado uma berinjela, e agora comia uma cortada em rodelas temperadas com
gengibre e ervas do Nilo.
Então o poeta da
Corte exaltou a berinjela, que dá prazer à boca e no leito faz milagres, porque
para as proezas do amor é mais poderosa que o pó de dente de tigre ou o chifre
ralado de rinoceronte.
Algumas rodelas
depois, o sultão disse:
— Que porcaria.
E então o poeta da
Corte amaldiçoou a berinjela enganosa, que castiga a digestão, enche a cabeça
de pensamentos maus e empurra os homens virtuosos ao abismo do delírio e da
loucura.
— Você acaba de
levar a berinjela ao Paraíso, e agora a está jogando no inferno - comentou um
insidioso.
E o poeta, que era
um profeta dos meios de comunicação de massa, pôs as coisas em seu devido
lugar:
— Eu sou um cortesão
do sultão. Não sou cortesão da berinjela.
***
Do Livro: Bocas del Tiempo, 2004