Lamentos de Ipu-ur
Em verdade o rosto está pálido () o
que os ancestrais predisseram aconteceu.
Em verdade () o país está cheio de bandos [revoltosos],
e para lavrar um homem leva seu escudo.
Em verdade o cordato diz () é um homem de recursos.
Em verdade [o rosto] está lívido e o arqueiro está pronto,
o crime alastrou-se e não há homens como antigamente.
Em verdade os ladrões estão por toda parte,
os criados levam o que encontram.
Em verdade o Nilo inunda mas ninguém lavra para si,
pois todos dizem "Não sabemos o que sucederá ao pais".
Em verdade as mulheres estão estéreis, nenhuma concebe:
Chnum não molda [mortais] por causa da situação do pais.
Em verdade os pobres passaram a exibir luxo,
e o que não podia ter () sandálias possui riqueza
Em verdade os criados estão vorazes
e o poderoso não mais compartilha [de alegria] com sua gente
Em verdade [os corações] estão violentos, a calamidade varre o país,
há sangue por toda parte, não faltam mortos:
as faixas das múmias clamam para que se chegue a elas.
Em verdade muitos mortos são atirados no rio:
a correnteza virou sepultura e o Lugar Puro virou torrente.
Em verdade os ricos deploram e os pobres exultam;
cada cidade diz: "Expulsemos os poderosos!"
Em verdade as pessoas são como os ibis: a sujeira alastra-se
e hoje ninguém possui vestes brancas.
Em verdade o pais como que roda no torno do oleiro:
o salteador torna-se rico e o rico [torna-se] ladrão.
Em verdade os criados de confiança são como ()
Os habitantes [exclamam]: "Ai, o que será de mim?"
Em verdade o rio é sangue:
bebido, é vomitado porque [nele] há gente,
embora continue a sede de água.
Em verdade os crocodilos [estão] fartos de suas presas,
(pois) as pessoas atiram-se a eles de propósito.
O pais está ultrajado.
Todos dizem: "Não andes por aqui, é uma armadilha!"
As pessoas debatem-se [na água] como peixe,
os assustados nada distinguem em seu terror.
Em verdade () povo diminuiu,
o que enterra seu irmão está por toda parte.
A palavra do sábio logo fugiu.
Em verdade o filho do rico não é mais reconhecido,
o filho da senhora tomou-se (como) filho de sua criada.
Em verdade ()
não há egípcio em lugar algum.
Em verdade ouro, lápis-lazúli, prata e turquesa,
cornalina, ametista, ibehaty e [todas] as nossas [jóias]
pendem no pescoço das criadas.
Papiro de Ipu-ur (fragmentos)
Escrito ao final da XII Dinastia e o Segundo Período Intermediário do Egito, entre 1850 a.C. e 1600 a.C.
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